Por que os homens tem menor expectativa de vida
Em 2010, o Ministério da Saúde lançou a Política Nacional da Saúde do Homem. Todo o mundo o mundo viu na televisão o que os médicos já sabiam havia muito tempo: o homem morre mais cedo que a mulher. Quando a política foi lançada, a expectativa de vida ao nascer dos homens era estimada em 7,6 anos a menos que a das mulheres.
O curioso é que os homens morrem mais cedo, mas adoecem menos. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), um homem brasileiro que nascesse em 2002 teria uma uma expectativa de passar 13,0% de sua vida, ou seja, 8,5 anos com algum grau de incapacidade (que é uma forma de medir a gravidade das doenças). Já uma mulher que nascesse naquele mesmo ano teria uma expectativa de passar 9,8 anos com incapacidade, ou seja 13,6% de sua expectativa total de vida. A maioria dos consultórios médicos recebe mulheres com muito mais frequência do que homens. Além de adoecer mais, as mulheres vão ao médico com mais facilidade que os homens, seja por motivos culturais, seja por motivos trabalhistas.
Quando o agente comunitário de saúde visita uma família, é quase sempre a mulher que o atende, mesmo que o homem esteja em casa. Pensando em ajudar todos a olhar um pouco mais para a saúde do homem, vejam só os 10 principais fatores de risco para a saúde do homem brasileiro. Para dar uma dimensão da importância de cada fator de risco, entre parênteses está a proporção da carga de doença da população masculina que é causada por aquele fator de risco.
Uso de álcool
(15,2%) — Apesar do álcool uso moderado do álcool ter um aparente efeito protetor para a doença cardíaca isquêmica (angina, infarto cardíaco) e para a forma isquêmica da doença cerebrovascular (mais conhecida como AVC ou derrame), existem dezenas de doenças para as quais quanto mais álcool pior, mesmo se a pessoa não for alcoolista. Não é segredo que os homens bebem muito mais do que as mulheres. O resultado é que o sexo masculino sofre 6,0 vezes as consequências que o sexo feminino sofre pelo uso excessivo do álcool.
Tabagismo
(4,2%) — Outro fator de risco tradicionalmente ligado ao gênero masculino. Mesmo com a proporção cada vez maior de mulheres entre os fumantes, a carga de doença decorrente do uso do tabaco nos homens é 2,6 vezes a carga das mulheres. Como os efeitos deletérios do tabagismo demoram a aparecer, espera-se que essa diferença diminua sensivelmente ao longo das próximas décadas.
Sobrepeso e obesidade
(3,5%) — Apesar de ser o terceiro fator de risco que mais contribui para a carga de doença do homem brasileiro, o excesso de peso traz ainda mais consequências para a população feminina. Dessa forma, não é pela obesidade que os homens morrem antes que as mulheres.
Pressão alta
(3,3%) — O ideal seria que todo o mundo tivesse a pressão menor do que 12 por 8. Acima disso, aumenta cada vez mais o risco de AVC, infarto cardíaco, amputação e várias outras doenças cardiovasculares (do coração e dos vasos sanguíneos). Como todo o mundo vai morrer um dia, o importante não é saber qual vai ser a causa de morte. Mas, quando o risco de uma doença aumenta, aumenta também o risco da pessoa ter uma morte ou incapacidade precoce, o que se traduz em menos anos de vida saudáveis. No Brasil os homens têm 20% mais carga de doença causada pela pressão arterial do que as mulheres, presumidamente pela dificuldade em fazer acompanhamento médico.
Glicose alta
(3,1%) — Assim como no caso da pressão arterial, quanto menor a glicemia (o nível de glicose no sangue), menor o risco da pessoa desenvolver complicações cardiovasculares nos próximos anos. O diabetes e o pré-diabetes trazem ainda mais consequências para a saúde da população feminina do que para a da masculina, então não é por causa disso que os homens morrem mais cedo.
Falta de aleitamento materno
(2,3%) — A alimentação do bebê deve ser completamente constituída pelo leite materno até completar 6 meses de idade; a partir daí os alimentos da família devem ser introduzidos gradualmente, mas mantendo o aleitamento materno 2 a 3 vezes ao dia até pelo menos os 2 anos de idade. A interrupção precoce do aleitamento materno implica em maior mortalidade infantil e em menores de 5 anos de idade, e a carga disso para a saúde dos homens é 1,2 vez a carga para a saúde da mulher.
Sexo sem camisinha
(2,2%) — Relações sexuais sem preservativo podem trazer doenças sexualmente transmissíveis e/ou Aids, mas para a mulher o risco é ainda maior. Algumas mulheres tentam abortar gravidezes indesejadas, e pela clandestinidade as tentativas de aborto podem levar ao óbito materno.
Uso de drogas ilícitas
(2,2%) — A maior consequência do uso problemático de cocaína (e crack), anfetaminas e opioides é a morte precoce. Os 2,2% que citei só incluem sobredose (overdose), suicídio, trauma (homicídio, acidentes de trânsito e outros) e infecção pela Aids; e não incluem o uso da maconha. A somatória desses problemas nos homens é 2,5 vezes a somatória das mulheres.
Colesterol alto
(2,1%) — O excesso de colesterol é um dos principais fatores de risco para a doença cardíaca isquêmica, além de outras doenças do aparelho circulatório. E o problema surge uns 5 anos mais cedo para os homens, que por isso têm uma carga de doença atribuída ao colesterol cerca de 40% maior que a das mulheres.
Fatores de risco ocupacionais
(2,1%) — O adoecimento ou falecimento decorrente do trabalho é muito maior no sexo masculino: a carga de doença atribuída é 5,8 vez aquela do sexo feminino. Mas as consequências variam muito de um lugar para o outro, e de uma ocupação para a outra. A carga de doença é uma forma de expressar o impacto de uma doença ou fator de risco. Esse impacto é medido em anos de vida perdidos (quando mais precoce a morte, pior), e ajustado para o grau de incapacidade das pessoas que não morrem mas têm que conviver com a doença ou uma consequência da mesma. Quanto maior o número de pessoas afetadas, maior a carga de doença.